domingo, 29 de junho de 2008

Diário do Draft - Parte Dois

Uma série em dez textos
Por Gregory Dole
Originalmente publicado em TrueHoop

O canadense Gregory Dole vive no Brasil e descreve a si mesmo como "escritor freelancer, professor de inglês como segunda língua, técnico de basquete, olheiro e viajante pelo mundo". Esta é a carreira que não muito tempo atrás, levou-o profundamente de encontro com a vida de um certo "Brazilian Blur".

Na primavera e verão de 2003, antes e depois do draft da NBA, Dole foi o tradutor de Leandro Barbosa. Ao longo dos próximos dias -- francamente, na esperança de conseguir um contrato para escrever um livro (se por acaso houver algum agente ou editor por aí lendo) -- Dole estará apresentando histórias de seu período com Barbosa. A primeira história começa quando um jogador brasileiro lhe leva uma fita cassete para a sala de Dole.

***

Estamos em Milwaukee, ou melhor, na periferia da cidade em um seminário para padres católicos. Os Bucks treinam em uma quadra dentro do seminário.

Eu e Leandrinho entramos no prédio e cumprimentamos o segurança. Sem resposta. Nós olhamos outra vez, e percebemos que não é um segurança. É um boneco de cera. Nós demoramos um pouco para nos ligarmos disso. Então Geroge Karl entra no prédio e nós o cumprimentamos. A mesma resposta que nos deu o homem de cera. Nós soubemos depois que Karl não gosta de rookies nem de futuros rookies.

Estou traduzindo para Leandrinho, em quadra, vestindo uma camisa e uma bermuda grande. Meu atleta está jogando contra Marquis Daniels. Estou puto porque um assistente-técnico otário está ajudando demais Daniels e tirando o Leandrinho enquanto os dois jogam. O que é isso? Que palhaçada. Eu penso em reclamar mas percebo que o brasileiro não se liga porque não fala nada de inglês.

Daniels parece se dar melhor que Leandrinho em todas as disputas. É uma experiência frustrante. O arremesso do brasileiro não está caindo. Ele não consegue fazer nada certo. Está tendo um daqueles dias.

Numa corrida cronometrada, Daniels vence de longe. O que está acontecendo? Eu já tinha visto isso antes, então eu digo que os dois corram novamente, mas desta vez batendo bola.

A corrida recomeça, e não dá nem graça. Daniels está na metade do caminho quando quando Leandrinho cruza a linha de chegada.

Esta é a chave para a velocidade do brasileiro. Ele não perde nem um milésimo entre correr com a bola ou sem ela. Poucos jogadores tem essa coordenação.

Eu vi de onde vem esse tremendo controle de bola de Leandrinho. Seu irmão, Arturo, um professor de basquete aloprado, começou a treinar esse tipo de habilidade com seus irmãos mais novos desde pequenos.

Arturo era como um sargento. Que faz todo sentido, porque Arturo era de fato autoritário nesse sentido.

Se os exercícios não fossem completados perfeitamente, seriam seguidos de punição física. Lágrimas iriam rolar, e então o exercício continuaria. Como me disse certa vez sua mãe, Dona Ivete, Arturo e ela tinham sérias discussões questionando se esses métodos eram necessários ou sequer saudáveis.

Olhando os resultados, Arturo teria um bom argumento.

Terminados os penosos exercícios em quadra, nós fomos para a sala de musculação. Daniels é um fenômeno atlético. Ele pode sair da quadra e começar a levantar pesos como se fossem nada. O mesmo não se podia dizer de Leandrinho, que era praticamente humilhado.

A musculação também revelava algo estranho: na medida de abertura dos braços, os fisioterapeuta percebeu que a mão esquerda de Leandrinho é muito maior que a mão direita. Chupa, Daniels.

Depois de tudo, Daniel leva uma pancada no treino e se machuca seriamente. Por causa da lesão, Daniels ia ficar fora por tempo indeterminado. Eu soube depois que seu treino no Milwaukee foi seu primeiro e último teste antes do draft da NBA. Não sei se é verdade. O que eu sei é que Leandrinho é mais forte que parece e quando vai pra cesta deve dar umas belas trombadas em seus adversários.

Nós sentamos para almoçar depois do treino e encontramos o técnico-torcedor de Daniels da equipe técnica dos Bucks. Seu nome é Sam Mitchell. No fim das contas ele é uma boa pessoa.

Depois do almoço, fizemos aguns testes psicológicos. Eu terminei fazendo o teste para Leandrinho porque ele levava muito tempo para traduzi-lo.

Quando está tudo terminado, saímos do complexo de treinamento nos despedindo de Daniels e desejando-lhe uma breve recuperação. Terminado isso, pegamos a estrada para Chicago.

Não sei se foi a baixa performance de Leandrinho em quadra ou meu teste psicológico, mas nós dois concordamos que certamente não iríamos jogar com o uniforme dos Bucks tão cedo.




2 comentários:

Anônimo disse...

será que qualquer semelhança entre o tal Arturo e as histórias que eu ouvi sobre o Prof. Tanaka é mera coincidência!?...hehe

fazia tempo que não eu passava por aqui. bom trabalho, Cróvis!...ao menos melhor que aquele Brasil x Alemanha...hahaha
um abraço, seu frito!

Manel disse...

caaara, q história!!!
vi q faz tempo q vc não posta ein! termina a história pra gente ver! esse blog já está nos meu favoritos!!
abraço!!!