Essa frase foi dita por Bill Laimbeer, um dos atletas mais odiados da NBA em todos os tempos. E isso não é um exagero.
Antipático, mau-humorado, brigão e truculento, Laimbeer encarnava a alma de uma equipe que não à toa era chamada de Bad-Boys. Na entressafra do talento de Magic Johnson e Larry Bird nos anos 80 e a dinastia de Michael Jordan nos anos 90, o Detroit Pistons e seus caras maus ganharam vaias, xingamentos, desprezo e dois títulos da NBA (1989 e 1990).
Ao lado de Isiah Thomas, Joe Dumars, Dennis Rodman, e outros comparsas, Bill Laimbeer conseguiu captar o ódio de seus adversários, da opinião pública e de todo um país contra um basquete físico e pouco inspirado. Em Boston e Nova Yorque, seus rivais diretos na Conferência Leste, Bill Laimbeer era especialmente objeto da repulsa dos cidadãos, a ponto do grupo Beastie Boys dedicar-lhe uma canção nada simpática, chamada Tough Guy. A letra é quase tão pesada quanto o pivô dos Pistons e não será traduzida em respeito aos menores de idade que talvez leiam este blog.
Hoje Bill Laimbeer é um bem-sucedido técnico bicampeão de WNBA pelo Detroit Shocks e seu comportamento no banco não lembra em nada o bad-boy que marcou o final dos anos 80.
O perfil abaixo foi escrito originalmente em 22 de maio de 1987, por um renomado jornalista esportivo norte-americano chamado Mitch Albom e republicado no dia 21 de janeiro de 2008, no site freep.com. A tradução em inglês foi feita por mim, portanto peguem leve nas críticas.
MITCH ALBOM FLASHBACK: Bill Laimbeer é o inimigo público número 1 - exceto em Detroit
PARTE 1
"Se eu fosse outra pessoa, e olhasse para mim? Eu me acharia um idiota também."
Bill Laimbeer
BOSTON - Espere. Não me diga. Você odeia esse cara. Ele é teimoso, truculento, um moleque mimado, um ator, um grosseiro, não pode saltar, não pode dar tocos, corre como uma veada prenha, seu nariz é afiado e quando ele cumprimenta alguém parece a inauguração do acampamento dos nerds.
"Quem se importa?", diz Bill Laimbeer, sentado do outro lado da mesa do café-da-manhã. Ele estica seus longos braços em minha direção. "Vou comer umas das suas uvas. Obrigado".
É verdade. Quem se importa? Tome uma uva. Apenas doze horas antes, durante um jogo de playoff no Boston Garden, Laimbeer, o pivô dos Pistons, foi unanimemente vaiado, xingado, desprezado; a chuva de ódio caiu sobre Boston. Quem se importa? Durante a série de playoff anterior, em Atlanta, um ginásio lotado entoava uníssono "LAIMBEER É UM BOSTA!". E, depois que Detroit eliminou os Hawks, alguém jogou um copo de cerveja na sua cara.
Quem se importa? Olhe, é o Sr. Popularidade!
"Eu faço o que tenho que fazer. Este é minha maneira de jogar. Eu trombo nas pessoas. Não sou liso. Sou trombador. É por isso que as pessoas não gostam de mim”.
Ele dá um sorriso amarelo. "Essas uvas são ruins".
William Laimbeer Jr. Parafraseando Kojak: Quem te incomoda, baby? Alguém mais além desse cara? A menos, claro, que você seja um torcedor dos Pistons. E mesmo assim...
O que há nele que te incomoda tanto? Ou melhor. O que há que não te incomoda tanto?
Ele é uma estrela da NBA que nunca pisou numa quadra de playground do gueto, um garoto rico que ganhou um carro nos seu 16o aniversário, que foi reprovado em Notre Dame quando novato ("dormia muito ali"), que largou seu único bico depois de duas semanas de trabalho; um cara que é sarcástico, ácido, reclamão, chorão, que preferiria estar jogando golfe, e que admite: tira suas roupas sujas e as deixa em qualquer lugar da casa, esperando que sua mulher as recolha.
Você já está pronto pra dar uma surra nele?
E olhe. Ele está sorrindo. Este é o lance com Bill Laimbeer. Você joga seus defeitos na sua cara e ele ri como uma criança no berço. É isso que faz você balançar a cabeça e dar uma risada cada vez que você for insultá-lo? Isso que o ego de Laimbeer tem de mais curioso, que ao invés de proclamar sua grandiosidade, parece incentivá-lo adiante, batendo no peito e gritando "EU SOU... MEDíOCRE!"
Quem te incomoda, baby? Laimbeer é ofendido pelos pivôs adversários em programas de rádio (como Johnny Most dos Celtics, que disse: "Ele é um falso, um flopper*, ele machuca as pessoas, eu não gosto dele"). E apesar disso, Isiah Thomas, un anjo queridinho de todos, diz que Laimbeer é seu melhor amigo.
O que nós temos neste quebra-cabeça de 2m10 e 118 quilos é um enorme mal-entendido ou o cara mais cuzão do mundo. Ou algo entre os dois. É verdade, se não dar a mínima for um pecado, Bill Laimbeer é culpado sem discussão. Como uma criança na Casa dos Espelhos, ele vê todos seus reflexos ordinários, e eles só lhe estraçalham.
"Veja, eu nunca conseguirei voar pelo ar como alguns caras nesta Liga", diz o pivô que ainda tenta ser campeão de rebotes esta temporada (**), com média de 15,4 pontos e 11,6 rebotes por jogo e um arremesso de longa distância digno de um talentoso armador -- e que é um jogador fundamental se os Pistons esperam vencer a final da Conferência Leste contra Boston. "Eu me liguei bem cedo que eu não seria um dos melhores da história".
"Então, eu faço o que eu preciso para sobreviver. Eu empurro as pessoas. Se um cara está indo para o seu lugar predileto em quadra, eu paro no seu caminho, eu trombo nele, eu não o deixo chegar lá. Eu trombo, trombo, trombo".
"No entanto eu me divirto com minha reputação de durão. Eu nunca brigo. Eu fujo da briga. Eu posso ter algumas discussões, mas elas nunca são brigas de verdade".
Laimbeer, claro, deu a essas platéias adversárias mais que um simples trombo para se lembrarem. A última vez que os Pistons encontraram os Celtics nos Playoffs (1985), Laimbeer foi atirado ao chão por Robert Parish e levantou dando socos (e errando). E depois de uma insinuação de Larry Bird que Boston ia ganhar a série, Laimbeer encontrou o famoso lateral durante a segunda vitória dos Pistons e gritou, "Onde está sua bola de cristal agora, bruxinha?".***
Já no primeiro jogo da série, ele provocou uma falta técnica em Parish.
Portanto, ele não vai ganhar nenhum ingresso grátis para ir ao Boston Garden. Nem para nenhum outro lugar. A placa de seu carro deveria dizer "Nascido para irritar". Ele empurra. Ele provoca. Quando ele é apresentado em quadra, corre e aponta para os companheiros (nada de cumprimentos) com essa expressão de mandíbula fechada que deveria ser sua cara de mau, mas que na verdade aparenta que ele quer ir ao banheiro.
"Se você fosse outra pessoa jogando contra Bill Laimbeer, você gostaria de dar um belo murro na sua cara?".
"Yeah", ele diz "Eu acho que sim".
Caso encerrado.
(*) flopper é aquele jogador que o tempo todo se joga para cavar faltas
(**) Laimbeer conseguiu o título na temporada 86-86
(***) tradução livre
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