Por Gregory Dole
Originalmente publicado em TrueHoop
Originalmente publicado em TrueHoop
O canadense Gregory Dole vive no Brasil e descreve a si mesmo como "escritor freelancer, professor de inglês como segunda língua, técnico de basquete, olheiro e viajante pelo mundo". Esta é a carreira que não muito tempo atrás, levou-o profundamente de encontro com a vida de um certo "Brazilian Blur".
Na primavera e verão de 2003, antes e depois do draft da NBA, Dole foi o tradutor de Leandro Barbosa. Ao longo dos próximos dias -- francamente, na esperança de conseguir um contrato para escrever um livro (se por acaso houver algum agente ou editor por aí lendo) -- Dole estará apresentando histórias de seu período com Barbosa. A primeira história começa quando um jogador brasileiro lhe leva uma fita cassete para a sala de Dole.
Na primavera e verão de 2003, antes e depois do draft da NBA, Dole foi o tradutor de Leandro Barbosa. Ao longo dos próximos dias -- francamente, na esperança de conseguir um contrato para escrever um livro (se por acaso houver algum agente ou editor por aí lendo) -- Dole estará apresentando histórias de seu período com Barbosa. A primeira história começa quando um jogador brasileiro lhe leva uma fita cassete para a sala de Dole.
***
“Desculpe. A lei estadual de Ohio não permite vender galinhas vivas”, diz a senhora da barraca de frango no mercado, “mas nós temos sim algumas galinhas orgânicas incrivelmente saborosas. Mortas, é claro. Por que exatamente você precisa de uma galinha viva?”
Eu tomo uma rápida decisão e compro umas galinhas orgânicas. São muito menores que as boas e velhas galinhas alimentadas com esteróides que eles vendem nos supermercados nos dias de hoje, e certamente não passará por uma galinha viva.
Eu a levo para casa para Arturo. Quando eu entro na casa, Leandrinho está coberto de pipoca e gema de ovo. Eu não pergunto nada, ao invés disso me sirvo da pipoca que resta na tigela. Felizmente, Arturo mudou de idéia sobre a necessidade de uma galinha viva. Aparentemente, houve algum erro de comunicação entre nós.
Certamente.
Ele bate o resto dos ovos e prepara a galinha orgânica à milanesa. A saborosa entrada é acompanhada por uma deliciosa salada de espinafre com vinagre e uma pitada de sal, e os tradicionais feijões brasileiros temperados com alho. Arturo ainda não se ligou, ele deveria abrir um restaurante. Nós nos arrumamos para um jantar um pouco mais cedo.
O quadril de Leandrinho leva alguns dias para melhorar, o que parece uma eternidade. O tempo está voando agora e a cada dia perde-se uma oportunidade de treinar em algum time da NBA. Leandro, seu irmão e eu somos um grupo frustrado. O que começou como uma grande promessa está começando a ir por água abaixo.
Arturo faz o que pode para amenizar as coisas, fazendo jantares gostosos para nós e convidando outros jogadores que Leandrinho conheceu enquanto treinou em Cleveland. Um desses caras, Andrew Mitchell, de Kent State, está tendo um grande sucesso na Suécia. Toda vez que eu olho na internet, ele está liderando a liga sueca em pontos e títulos conquistados. Outro cara, Juby Johnson, da Universidade de Miami, Ohio, tem tido grande sucesso vencendo campeonatos nas principais ligas croatas. A saber, outro jogador que estava treinando em Cleveland com Leandrinho durante aquele período foi um pivô de Kent State pouco conhecido chamado Antonio Gates. Os fãs da NFL devem se lembrar dele como um tigh-end recordista pelo San Diego Charges.
Para aqueles que passam pelo ginásio de treinamentos Speed Strenght na Euclid Avenue, em Cleveland, naqueles dias nós éramos uma galera estranha, com jogadores de basquete baixinhos de Kent State e um desconhecido brasileiro. Curioso como todos esses atletas atingiram o sucesso ao redor do planeta, na Suécia, na Croácia, na NBA e na NFL. Poucos apostariam nisso na primavera de 2003.
Eu tive muito tempo para ver Arturo e Leandro interagirem. Anos depois, eu escutaria suas histórias da boca de Enio Vechi, um ex-treinador da seleção brasileira:
Sobre o quadril, nada parecia funcionar. Nós gastamos dias indo de tratamentos médicos e piscinas no clube. O garoto não estava melhorando. Voltar para o Brasil com seu rabo entre as pernas parecia mais possível que nunca.
Leandrinho, Arturo e eu avaliamos as implicações das declarações feitas por Rob Babcock, do Minessota Timberwolves. Como um membro de um comitê da NBA que avalia possibilidades do draft, ou algo do tipo, Babcock ligou para dizer que havia uma grande possibilidade de Leandrinho passaria pelo primeiro round sem ser draftado. É difícil de acreditar nisso, entretanto nós pensamos a respeito. E concluímos no fim das contas que não havia motivo para desistir do draft. Na verdade, era provável que se ele não fosse draftado e não recebesse nenhuma boa oferta da Europa, ele seria o jogador mais bem pago do país, somente pela publicidade ganha na tentativa de entrar na NBA. Então, como Sinatra costumava dizer, era tudo ou nada. A NBA ou o fracasso.
Nós estávamos sentados assistindo a um filme de Jean-Claude Van Damme quando recebemos uma ligação que o Phoenix Suns queriam levar Leandrinho para um treino secreto.
Em qualquer ocasião, Phoenix tinha seus olhos no brasileiro desde que eles viram a famosa fita com seus lances. Eles haviam ligado no início do processo do draft mas nenhuma data de treino pôde ser acertada por conta de conflitos na programação. No quase-último-minuto, então os dirigentes dos Suns a Leandrinho voar para fazer uma entrevista, mesmo que ele não pudesse passar por um treino em quadra. Ou assim nos foi dito.
Posto isso, seguimos para Phoenix.
Eu tomo uma rápida decisão e compro umas galinhas orgânicas. São muito menores que as boas e velhas galinhas alimentadas com esteróides que eles vendem nos supermercados nos dias de hoje, e certamente não passará por uma galinha viva.
Eu a levo para casa para Arturo. Quando eu entro na casa, Leandrinho está coberto de pipoca e gema de ovo. Eu não pergunto nada, ao invés disso me sirvo da pipoca que resta na tigela. Felizmente, Arturo mudou de idéia sobre a necessidade de uma galinha viva. Aparentemente, houve algum erro de comunicação entre nós.
Certamente.
Ele bate o resto dos ovos e prepara a galinha orgânica à milanesa. A saborosa entrada é acompanhada por uma deliciosa salada de espinafre com vinagre e uma pitada de sal, e os tradicionais feijões brasileiros temperados com alho. Arturo ainda não se ligou, ele deveria abrir um restaurante. Nós nos arrumamos para um jantar um pouco mais cedo.
O quadril de Leandrinho leva alguns dias para melhorar, o que parece uma eternidade. O tempo está voando agora e a cada dia perde-se uma oportunidade de treinar em algum time da NBA. Leandro, seu irmão e eu somos um grupo frustrado. O que começou como uma grande promessa está começando a ir por água abaixo.
Arturo faz o que pode para amenizar as coisas, fazendo jantares gostosos para nós e convidando outros jogadores que Leandrinho conheceu enquanto treinou em Cleveland. Um desses caras, Andrew Mitchell, de Kent State, está tendo um grande sucesso na Suécia. Toda vez que eu olho na internet, ele está liderando a liga sueca em pontos e títulos conquistados. Outro cara, Juby Johnson, da Universidade de Miami, Ohio, tem tido grande sucesso vencendo campeonatos nas principais ligas croatas. A saber, outro jogador que estava treinando em Cleveland com Leandrinho durante aquele período foi um pivô de Kent State pouco conhecido chamado Antonio Gates. Os fãs da NFL devem se lembrar dele como um tigh-end recordista pelo San Diego Charges.
Para aqueles que passam pelo ginásio de treinamentos Speed Strenght na Euclid Avenue, em Cleveland, naqueles dias nós éramos uma galera estranha, com jogadores de basquete baixinhos de Kent State e um desconhecido brasileiro. Curioso como todos esses atletas atingiram o sucesso ao redor do planeta, na Suécia, na Croácia, na NBA e na NFL. Poucos apostariam nisso na primavera de 2003.
Eu tive muito tempo para ver Arturo e Leandro interagirem. Anos depois, eu escutaria suas histórias da boca de Enio Vechi, um ex-treinador da seleção brasileira:
Eu era técnico em um clube chamado Continental, afastado do centro da cidade de São Paulo. É uma área industrial suja, próximo de onde Arturo, sua mãe e família viviam. Arturo tinha cerca de 22 anos quando apareceu um dia e me perguntou se ele poderia treinar com meu time. Ele já estava no exército nesta época e não tinha nenhuma intenção de jogar basquete profissionalmente mas queria uma equipe para treinar porque ele amava muito o basquete. Ele tinha um entusiasmo intenso pelo jogo então eu não podia dizer não. Foi então que nossa amizade começou. Algum tempo depois, Arturo me perguntou se ele poderia trazer seu irmão mais novo para assistir aos treinos. Na verdade, o horário de treino era a hora que ele deveria estar tomando conta do seu irmão, então ele estava juntando o útil ao agradável. Eu disse que não havia problema. Quando aquele garoto de cinco anos apareceu, eu fiquei impressionado como ele era magro. Enquanto Arturo era forte como um touro, Leandrinho parecia um desenho de palitinhos. Ele era realmente esquelético, pura pele e osso com braços realmente longos. Eu não posso dizer que pensei que um dia ele fosse se tornar um jogador da NBA. Em cada oportunidade, Arturo me pedia para mostrar alguns exercícios que ele pudesse ensinar para Leandrinho. E assim começou. Arturo ensinaria um exercício para o garoto, o garoto aprendia e Arturo me perguntava de novo por mais exercícios e assim foi por um longo tempo. A medida que o garoto cresceu, Arturo me pediria para indicar locais para seu irmão treinar. Quando ele tornou-se um adolescente, Arturo e eu tivemos discutiríamos qual time seria melhor para ele jogar. Eu fiz isso porque nós éramos amigos. Eu jamais imaginaria que Leandrinho iria tornar-se o prodígio que ele é hoje. Eu acho que nenhuma pessoa pensava isso. O fato é que o guiou e o incentivou. Graças a perseverança de Arturo, a NBA tornou-se realidade.
Sobre o quadril, nada parecia funcionar. Nós gastamos dias indo de tratamentos médicos e piscinas no clube. O garoto não estava melhorando. Voltar para o Brasil com seu rabo entre as pernas parecia mais possível que nunca.
Leandrinho, Arturo e eu avaliamos as implicações das declarações feitas por Rob Babcock, do Minessota Timberwolves. Como um membro de um comitê da NBA que avalia possibilidades do draft, ou algo do tipo, Babcock ligou para dizer que havia uma grande possibilidade de Leandrinho passaria pelo primeiro round sem ser draftado. É difícil de acreditar nisso, entretanto nós pensamos a respeito. E concluímos no fim das contas que não havia motivo para desistir do draft. Na verdade, era provável que se ele não fosse draftado e não recebesse nenhuma boa oferta da Europa, ele seria o jogador mais bem pago do país, somente pela publicidade ganha na tentativa de entrar na NBA. Então, como Sinatra costumava dizer, era tudo ou nada. A NBA ou o fracasso.
Nós estávamos sentados assistindo a um filme de Jean-Claude Van Damme quando recebemos uma ligação que o Phoenix Suns queriam levar Leandrinho para um treino secreto.
Em qualquer ocasião, Phoenix tinha seus olhos no brasileiro desde que eles viram a famosa fita com seus lances. Eles haviam ligado no início do processo do draft mas nenhuma data de treino pôde ser acertada por conta de conflitos na programação. No quase-último-minuto, então os dirigentes dos Suns a Leandrinho voar para fazer uma entrevista, mesmo que ele não pudesse passar por um treino em quadra. Ou assim nos foi dito.
Posto isso, seguimos para Phoenix.
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